sexta-feira, 29 de junho de 2007

Soneto - Shakespeare




I

Dos mais belos seres, queremos mais,
De tal forma que não finde jamais a rosa da beleza,
Mas enquanto as mais maduras decrescem com o tempo,
Seus rebentos jovens possam relembrar suas memórias:
Mas tu, contratada a seus lindos olhos,
És auto-suficiente na luz de tua chama com tua beleza,
E crias a fome, onde está a abundância,
Inimiga de ti mesma, tu, que és tão doce, a ti mesma tão cruel.
Hoje frescamente ornamentamos o mundo,
E pareces a única capaz de anunciar a abundância da primavera,
Mas eis que dentro de teu próprio botão enterras tua essência,
E, tolinha, ocasionas um de´sperdício na natureza,

Tem pena do mundo, ou então isto seria egoísmo,
Consumir o quinhão que ao mundo se deve, e isto ao túmulo, e a ti mesma.

II.

Olha bem teu espelho e diga que rosto fitas ali,
O momento chegou em que esse rosto devesse formar um outro;
Cujo frescor, se não o renovares agora,
Trapacearias o mundo, tornando aquela mãe que o deveria ser, uma infeliz!
Pois quem não gostaria de ser filho teu?
Ou quem é aquele que se adore tanto
Que possa ser o túmulo da auto-estima, detendo a posteridade?
Tu és o retrato de tua mãe, e ela em ti,
Relembra a linda primavera de seus melhores dias:
Dessa maneira, verás pela janela dos anos,
Tua época dourada, apesar das rugas,

Mas se viveres, lembrada para não ter posteridade,
Morre solteira, e nesse caso tua imagem morre contigo.

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